Mas enquanto cavo minhas trincheiras para me proteger da ameaça interna que sou eu, derrubo os muros que me separavam do que não era eu. E bem aos poucos vou me expondo ao mundo, mesmo sem ter resolvido as pendências internas. Assemelho-me ao vulcão prestes a entrar em erupção: por fora a terra escura dá a sensação de deserto, calmaria e imobilidade, por dentro, lava fervente, agitada, tentando sair do emaranhado interno de canais e valas para emergir à superfície e tornar-se pedra da mais preciosa que existe.
É fato que à instabilidade da erupção segue um período de calmaria, no qual o vulcão permanece latente por anos a fio. Meu vulcão deve estar em hiper-atividade, com períodos de calmaria curtíssimos e cada vez mais escassos. Mas não reclamo, é essa instabilidade interna que me faz produzir, que me tira da inércia desses dias tão parcos e esverdeados (de um mormaço sonolento que geralmente causa malemolência).
Inércia na qual permaneci e muitos também permanecem por milhares de dias, meses, anos... Inércia improdutiva e desmemoriada. Inútil desde o início de sua elaboração, recheada por planos que jamais se concretizarão (ou pouco provavelmente).